Pandemia joga artistas na pobreza; cantora vende salgados para viver

Iara Pamella, cantora de forró, está vendendo bolos e salgadinhos para sobreviver

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Ricardo Feltrin
Colunista do UOL

A média mensal de 6.000 shows e eventos com música cancelados no país, há mais de um ano, por causa da pandemia de coronavírus, causou um efeito devastador na classe artística nacional.

Milhares de músicos, cantores e funcionários de bandas em todo o país estão em situação desesperadora, cheios de dívidas, quando não já na linha de pobreza.

Eles só têm sobrevivido por causa das doações ou ajuda de parentes e amigos.

Desde o ano passado, bandas inteiras e artistas já abandonaram a carreira e venderam seus instrumentos e equipamentos, como esta coluna publicou no ano passado.

O auxílio emergencial foi a fina tábua de salvação para muitos artistas e seus funcionários, mas nem sequer isso eles têm mais. O clima é de tristeza, revolta e desesperança.

Trocou o palco pelo fogoão

Famosa e querida cantora de forró no Nordeste, ex-vocalista do grupo Noda de Caju, Iara Pamella, 39 anos, estava seguindo uma carreira solo vitoriosa até o início de 2020, quando a pandemia “fechou” o país. Só de aluguel ela já deve quase R$ 7.000,00.

Para sobreviver, Iara tem acordado cedo e ido dormir tarde para preparar doces e salgados. É com isso que está sobrevivendo a duras penas. Sensibilizado, o cantor Beto Barbosa a convidou para participar de uma “live”, esta noite, para divulgar seu trabalho e expor a situação não apenas dela, mas de toda classe (veja horário ao final do texto).

Demissão em massa

No início do mês, a tragédia financeira chegou aos últimos funcionários da banda de Xand Avião. Todos foram demitidos porque não há nenhuma previsão de quando serão retomados os shows. Além disso, o cantor já estava enroladíssimo e sob investigação da Receita Federal desde 2019, sob suspeita de sonegação e lavagem de dinheiro. Foi uma “tempestade perfeita”.

Bandas vendem tudo

Outra banda, a Brasas do Forró, que está prestes a completar quase 30 anos de estrada, colocou tudo à venda: já anunciou o ônibus da trupe, além de um caminhão e até um terreno. Todos os funcionários foram demitidos e não há mais previsão se e quando o grupo voltará a se apresentar. A Brasas fazia 20 ou mais apresentações por mês antes da pandemia. A cantora nordestina Kátia Cilene é outra que colocou dois ônibus à venda, para pagar dívidas. O mesmo foi feito pelo cantor Junior Vianna, que não só vendeu um ônibus, mas também dezenas de touros e até um prédio para pagar os funcionários durante a pandemia. Mas, agora, o dinheiro secou.

Tentando se reinventar

Em São Paulo os músicos em pior situação são os que se apresentam nas casas noturnas da cidade. São pessoas talentosíssimas, mas simples e quase sem patrimônio. Todos viviam apenas de cachês pequenos desde antes da pandemia, ou de aulas particulares e em escolas. Pois até esse pouco desapareceu. Julia Felix, vocalista do Viovox Duo (seu parceiro é seu cunhado, o violonista e guitarrista Marcelo Montes), afirmou à coluna que a “desolação é total”. “Reduzimos os gastos até o impossível, estamos vendendo o que dá para vender, fazendo de tudo para tentar sobreviver.

Como músicos estamos tentando vender um novo produto, a Carta Musical, mas ela só tem saída em datas especiais, como Dia das Mães, dos Namorados etc.”

A Carta Musical é uma espécie de apresentação particular com uma ou mais músicas sob encomenda. Como os antigos “telegramas falados”. Só que tudo agora tem de ser “virtual”. Talentosa, voz suave, Julia já se apresentou até na Tailândia. Ela e Marcelo (reconhecido violonista virtuoso) fazem interpretações de bandas como Jamiroquai, Maroon 5, Amy Winehouse, Joss Stone e Sade, entre outras estrelas da música internacional.

Sem perspectiva

Outro grupo paulistano em sérias dificuldades é o Rock Collection, uma das melhores bandas cover do Brasil e especializada em Queen. Seu líder e vocalista, Marcos Vox, deu um tocante depoimento à coluna: “A gente não tem saída. Nosso trabalho é no palco, é nas festas. Não sobrevivemos sem isso. No começo da pandemia as “lives” até que ajudaram, mas perderam o apelo. A pessoa que ajudou lá atrás não vai e nem pode ficar ajudando sempre. Cada um da banda está tentando se virar de alguma forma. Tem gente que está na fase de vender coisas pessoais. Eu mesmo já estou desfazendo (do meu patrimônio) aos poucos, para não doer tanto, sabe? Outros do grupo tentam dar aulas virtuais, Mas, enfim, o que aparece a gente vai tentando abraçar. Infelizmente não está atingindo só os músicos, mas o pessoal dos bares, os garçons, os caras do vallet, a recepcionista… Muitos amigos músicos já estão desistindo (da música) e correndo para outros lados, como uber, vendas etc. O pessoal não vai aguentar, não.” Quem quiser conferir a qualidade da Rock Collection tem a chance amanhã à tarde, no canal oficial da banda no YouTube: eles farão uma live de uma hora e meia a partir das 14h50.

Como ajudar os artistas

Iara Pamella
Live de Beto Barbosa e Iara Pamela Quando: Hoje (20/03), Horário: 20h Onde: Canal no YouTube Beto Barbosa Oficial Bolos e salgados de Iara: (85) 98870-2201 (Fortaleza) Shows virtuais e assessoria: (85) 99624-6486.

Duo Viovox (São Paulo) Para shows virtuais e “lives” particulares: 11 98539-9969.

Rock Collection “Live” – Tributo ao Queen Quando: Amanhã (21/03) Onde: Canal oficial da Banda no YouTube Horário: 14h50 (encerramento 16h20) Para contratá-los: 11 99455-1356.

Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops.

Reportagem: https://www.uol.com.br/splash/noticias/ooops/2021/03/20/pandemia-joga-artistas-na-pobreza-cantora-vende-salgados-para-viver.htm

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